segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Senhora dos Afogados

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Com os pés atolados na areia molhada, o frio da água a subir-me pelas canelas, ainda assim não duvido: o mar me acalma. É questão antiga, que de há muito alaga meu coração dividido entre as serras mineiras e a languidez copacabanense. Sinto-me em casa no mato, caminho sem medo pelas trilhas seja de dia ou à noite, mas realmente nada se compara ao rumor do mar quando se trata de acalmar ânsias e desvarios. A miríade de cores que o oceano proporciona é simplesmente infinita: azuis, verdes, cinzas e transparências sem fim, conforme pude comprovar em mares do Caribe, travessias do Atlântico, bordas do Mediterrâneo e na maravilhosa costa brasileira de norte a sul.
O mais interessante é que este espírito contemplativo que se instala em minha alma se dá diante de algo em perpétuo movimento. Há nas marés algo que me carrega para o fundo e lá me deixa em sossego, ainda que na superfície as ondas derrubem calçadas, seqüestrem areias e afundem barcos. No embate entre o mar e a terra, estou sempre torcendo por ele, e é difícil ocultar meu regozijo quando uma onda maior se arrebenta contra a calçada e varre a imundície das ruas em água salgada.
Ou seja, a ressaca se sobrepõe à calmaria, o vendaval ao sossego, as marés brabas ao baixa-mar. Esta foto, feita na parte final do Leblon, é minha companheira, padroeira, Santa Bárbara dos Afogados. Tem piedade de mim!

2 comentários:

Bela Figueiredo disse...

venho retribuir a visita... gostei daqui. beijas.

Guta Nascimento disse...

[putz, também acho que há algo nas marés que me carrega e me acalma !
beijocas]