Os bares se assemelham aos pulmões: ficam cheios e vazios em um ritmo constante, principalmente aqueles botequins mais imundos, onde parece que só é possível comprar cigarros. Mas não, há ali sempre uma cachaça de tonel, uma cerveja que dói no dente e quase sempre uma barata – mas ninguém é perfeito. Sete da noite, por exemplo, é uma hora das plenas, onde milhares de zés iguais a milhões de joãos – a tal parte baixa do PIB... – se encontram, se é que.
Mas há também um outro povo, localizado no meio da pirâmide, que se não molhar o bico não tem saúde para chegar em casa. Porre é porre, e neles se misturam fraternalmente (nem sempre) sonhos, perdigotos, bafos, cheio de mijo e o diabo do cigarro que a tudo parece envolver, de gente que nem eu, que nem você, que nem a porra do planeta, onde há sempre um bar para se confraternizar.
- Mais uma, Pedro!
- Porra, mas que história é de rio é essa, Zé?
- Você pode não acreditar, mas existe nesta cidade de bosta um rio de verdade, destes que nascem purinhos, no meio da mata, cabacinho que só, e que a gente pensa que só encontra em postal antigo.
- Como é que você descobriu esta pérola natural?
- Ele nasce na floresta da Tijuca, dia e noite minando uma água limpinha, fresca...
Pedro chega com a cerveja, serve a gelada, encosta para assuntar o tema da conversa.
- O diabo é que ele dali parte em direção à cidade e toma na veia uma overdose de lixo, esgoto, cocô, defuntos, até móveis abandonados, e quando mergulha na Baía de Guanabara, polui ela mais ainda!
O grito faz o bar olhar para ele, é o cão que se aproxima, baixou o santo orador, estava na hora de um discurso cheio de mé na idéia!
- O nome é rio dos Macacos, é um dos lugares mais lindos do Rio de Janeiro!
- Você esteve lá, campeão? – pergunta Pedro.
- Não, não, eu li no jornal... Ele não tem culpa se a humanidade faz dos seus rios intestinos, e se a natureza tivesse escolha, certamente preferiria a companhia dos macacos a dos homens! E tenho dito!
Aplauso, gritos, assobios, é Zé das Mercês, o gênio da oratória do Largo do Machado em plena função.
-Pô, Zé, você fala bem demais – emociona-se o amigo, mais bêbado do que o intrépido orador.
Abraçam-se, é claro que pedem mais uma, é hoje que dona Encrenca vai baixar o sarrafo quando ambos chegarem em casa... Mas, pelo menos, a natureza está salva, ainda que por breves instantes.
4 comentários:
All I can say is nothing because your blog is not interesting to read.
Eu não sei quem é esse internert gambling, mas isso é um babaca, né não?
Isso é que é um achado! Lindo texto. É de 1984? São 24 anos. Ainda igual.
O rio dos Macacos continua lá, nascendo limpo e morrendo sujo. O rio Carioca também. E o Sarapuí, o Maracanã e até o Guandú, de onde vem a água que bebemos.
Todos pioraram muito de lá pra cá.
Vamos nos encontrar pra ver as fotos e contar causos?
oops! Nem assinei. Acho que me confundi com esse negócio de identidade.
Lacy
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